jueves, diciembre 07, 2006

M#17 Intimidade

Esses dias não estou conseguindo dormir. Lulú me acorda ou me acorda um sobressalto às seis da manhã. E as horas de insônia da manhã se somam às da noite, nunca durmo antes das duas. Entre tantas outras coisas que me enchem de sensações nesse fim de ano, estou ainda submersa em suas mãos, em sua pele e em seu toque. Banhada ainda em seu olhar. Insistente, infinito. Ainda não desgrudo da cabeça toda essa forma de ser beleza. Esse dormir como anjinho –como anjinho sim! Quantas vezes na vida encontramos um homem de enlouquiçados cabelinhos cinzas dormir de boca fechada, de ladinho, sem emitir qualquer som e de respiração imperceptível? Com quem dormir nessa paz? Como encontrar todos os dias homem e delicadeza tão unidos? Sem perder um só grama de masculinidade, como se realmente delicadeza não fosse um atributo feminino como dizem. Mas simplesmente uma habilidade, tanto de homens como de mulheres. Esse homem é essa comprovação. Delicadeza não tem sexo nem o modifica.

Fora essa forma rara de ser, no mais é um homem completamente comum. Entusiasmado vira criança, cansado se revela velho. Algum dissimulado desgosto o fizera perder beleza. Mas meu olhar ou a própria transparência de suas emoções é o que o salva. Ainda bonito porque o vejo viver tão humano, e tão perto, tão improvavelmente perto do meu universo. E no entanto, minha pele branquinha desce até os seus cabelos, somos uma continuação, seus sorrisos com buraquinhos e os buraquinhos meus, tudo é nosso.

O cabelo, o cabelo. O meu também sempre tão desalinhado. O dele que pela rua nos entrega. Quase poderia ser meu pai. Mas não é. Ou quem sabe seja, de alguma maneira esquisita e deliciosa.