sábado, diciembre 23, 2006

Então canta, uai!





Fotos: Bárbara Zir

martes, diciembre 19, 2006

M#19 Cantei

Música pra mim é (...) o traço de união que há
entre blues, Kalu, a índia e o Caramuru...
Chuva nas manhãs
e a música soa: no orfeão de rãs
solfeja a lagoa, sola um sabiá,
modula a garoa, lírios pedem bis...
(...)Música pra mim
não é um megaevento, é um pega pra capar, questão de sentimento: o afogado em pleno mar que agarra a mão do vento e ri, usa o sofrimento pra poder flutuar...

[Samba de um breque - Guinga e Aldir Blanc]

Do lixo ao avião em tudo há tom, e até pinico dá bom som se a criação é mais, se o músico for bom.

[Chá de Panela - Guinga e Aldir]


El domingo pasado grabé dos minutos de los sonidos de mi calle (¡valga la referencia!) y constaté que el coro de pajaritos se calla cuando empieza el pregón boquense del vendedor de sandías mientras los motores de los autos y las máquinas de diferente índole acompañan con el ritmo y los bajos. Noté entre el asombro y la evidencia que increíblemente todo se armoniza, incluso lo desarmónico. Música es cosmos. En ella se une lo contable y lo incontable. Una historia, quizás, y todas y cada manera de vivirla. Cantar, para mí, es transformar las palabras, relajarlas, traerlas del reino del entendimiento y disolverlas en lo intangible de los sonidos. Quisiera aflojar ese carácter de eternidad, de mandamiento y de ley que tiene la palabra escrita y deshacerla en tímida voz potente, efímera, finita (porque finalmente siempre calla). Canto y quiero construir un cauce, encontrarme en la inflexión más audaz donde por todos lados hay abismo; en mi voz quiero juntar los sentidos y lo sentido para ofrecer una traducción del cosmos que como toda versión, es mía, apenas mía.


martes, diciembre 12, 2006

M#18 Introspecção -quase- típica de fim de ano

Duas forças. A de ficar e a de sumir. Hoje peguei um livro, li dez páginas e quis ler inteiro. Me bateu uma fome de livro. Vontade de me fechar e ler, ler, ler. E não ver mais nada, durante esse tempo. E sair desse quarto escuro muito sabida, muito informada, sem saber tudo, claro, mas tanta coisa, tanta, tanta. E não é só saber, é viajar nas letras dos outros, saber a partir das imaginações dos outros, das experiências dos outros. Às vezes volto a descobrir o prazer de ler. Gosto de ler. Gosto muito de ler. Gosto de saber, também.
Mas de repente me dá aquela inquietação. Ai, meu deus. Que vontade de dançar, de cantar. Que que eu quero saber o quê. Eu quero é rir. Eu quero pessoas. Muitas pessoas, muitas pessoas sorrindo e conversando e bebendo tal vez. Ou sem sorrir nem beber, apenas cantando. Não estou nem aí pro longo prazo, o que importa é hoje, agora. Saber daquele jeito é denso, demorado. Prefiro saber assim, descontraída. Saber outras coisas. Eu quero ser feliz agora.
Aí o livro fica pela metade. A faculdade fica pela metade. Tudo vai ficando pela metade. Eu.
Dividida sempre. Sempre, sempre. Karma e patologia, loucura mesmo. Tudo ou nada.
Civilização e barbárie (como as coisas se unem num círculo só, e ao mesmo tempo se polarizam!). Muito rica e muito pobre. Muito argentina e muito brasileira. Muito inteligente e muito burra. Adoro as formas e as cores, me identifico com isso. Mas formas e cores são às vezes tão vazias. Conteúdo é sempre preciso, ao menos é preciso decidir a sua ausência... Às vezes a gente volta a perceber as contradições mais básicas de novo, aquelas que pareciam estar há tanto tempo tratadas. Que medo de morrer igual que hoje.
Que vontade de mudar.
Que vontade de mudar de verdade. Não essas mudanças medidas, progressivas... Vamos mudar tudo de uma vez. Pega o fuzil e vamos em frente. Vamos arrebentar tudo o que vier... Radicalidade, pô.
E daí vem a paz, a consciência. Peraí, não vai matar um inocente... Não vai abandonar quem te quer tanto. Não vai se meter em encrenca. Não vai se jogar por aí e perder consciência de si e acabar num buraco bêbada e mal-amada, e maltratada.

Às vezes fico fraquinha, assim, diante de mim mesma. Parece que não consigo viver com minhas próprias faces diferentes. Gostaria de ser mais lisa. Mais simples. Mais homogênea. Ter um destino possível só. Dizem que todos podemos ser qualquer coisa. Eu poderia. Mas tanta gente tem o destino tão "decidido", sem ter decidido nada. Quando eu morrer não quero ser a mesma de hoje. Quero que morrer seja um momento de bem. Se eu continuar me sentindo uma vez a cada dois anos assim, tão longe de mim mesma, serei triste a vida inteira.

Onde está o meu ponto de inflexão? À beira dos abismos, já calma, clamo.

domingo, diciembre 10, 2006

cda x 3

Drummond, o nojentinho

A língua lambe

A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos

E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,

entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.

Saudades de Drummond

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas
essas ficarão

Drummond e a poesia

Poesia

Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.

jueves, diciembre 07, 2006

M#17 Intimidade

Esses dias não estou conseguindo dormir. Lulú me acorda ou me acorda um sobressalto às seis da manhã. E as horas de insônia da manhã se somam às da noite, nunca durmo antes das duas. Entre tantas outras coisas que me enchem de sensações nesse fim de ano, estou ainda submersa em suas mãos, em sua pele e em seu toque. Banhada ainda em seu olhar. Insistente, infinito. Ainda não desgrudo da cabeça toda essa forma de ser beleza. Esse dormir como anjinho –como anjinho sim! Quantas vezes na vida encontramos um homem de enlouquiçados cabelinhos cinzas dormir de boca fechada, de ladinho, sem emitir qualquer som e de respiração imperceptível? Com quem dormir nessa paz? Como encontrar todos os dias homem e delicadeza tão unidos? Sem perder um só grama de masculinidade, como se realmente delicadeza não fosse um atributo feminino como dizem. Mas simplesmente uma habilidade, tanto de homens como de mulheres. Esse homem é essa comprovação. Delicadeza não tem sexo nem o modifica.

Fora essa forma rara de ser, no mais é um homem completamente comum. Entusiasmado vira criança, cansado se revela velho. Algum dissimulado desgosto o fizera perder beleza. Mas meu olhar ou a própria transparência de suas emoções é o que o salva. Ainda bonito porque o vejo viver tão humano, e tão perto, tão improvavelmente perto do meu universo. E no entanto, minha pele branquinha desce até os seus cabelos, somos uma continuação, seus sorrisos com buraquinhos e os buraquinhos meus, tudo é nosso.

O cabelo, o cabelo. O meu também sempre tão desalinhado. O dele que pela rua nos entrega. Quase poderia ser meu pai. Mas não é. Ou quem sabe seja, de alguma maneira esquisita e deliciosa.

miércoles, diciembre 06, 2006

Silêncios não falam via computador

Tá complicado demais escrever últimamente... Tudo passa por outros lugares, não pelas palavras. Palavras ficam sempre sem jeito. Como exageradas, barrocas. Explicativas demais. Desenhadas demais. São precisas muitas mais palavras ou palavra nenhuma. Aí fico nessa mudez toda, que de vez em quando me caracteriza. Silêncio é uma ótima forma de comunicação. Mas um bloGG sobre silêncio não faria sentido nenhum.

Queria falar sobre generosidade, sobre dar, e saber receber, e sobre saber o que dar e como receber. Isto é, um monte de besteira. Temas pouco capitais. Muito Lya Luft. Uéca.